Hoje é dia de luto para o mundo da moda. François Lesage, o mestre incontestável da arte do bordado, nos deixou nesta quata-feira (31.11), aos 82 anos.
Nascido em Paris, em 1929, Lesage esteve desde a infância ligado à maison Lesage, fundada por seus pais, em 1924. Depois de um estágio na empresa da família, ele trocou Paris por Los Angeles, onde abriu um ateliê na Sunset Boulevard, emprestando seu talento às estrelas mais importantes da época. Em 1949, com o fim da Segunda Guerra, ele voltou a Paris e assumiu a direção da maison Lesage. Decisão certeira, já que o Pós-Guerra foi um período de grande efervescência na moda francesa, repleto de novos talentos. Movido pelo otimismo desses anos de renascimento e reconstrução, Lesage lançou coleções próprias, que logo caíram nas graças dos grandes estilistas da época, como Pierre Balmain, Cristobal Balenciaga e Jacques Fath.
Impulsionado pelo sucesso em seu País, ele experimentou novas matérias-primas e resgatou outras clássicas, usando novas técnicas. Sua clientela cresceu e passou a incluir grifes como Lanvin, Givenchy, Dior e Yves Saint Laurent.
O talento de Lesage é reconhecido além do mundo fashion e na longa lista de suas “encomendas especiais” estão, por exemplo, os bordados da casula e mitra do papa João Paulo II. Preocupado com a perenidade do seu savoir-faire, ele criou em 1992 uma escola de bordado anexa à maison Lesage, que foi comprada em 2002 pela Chanel — no mesmo ano, a maison adquiriu também outros ateliês franceses para assegurar a sobrevivência desse trabalho artesanal.
Eu tive o grande prazer de encontrar monsieur Lesage em uma reportagem que fiz sobre os Ateliers d’Art da Maison Chanel, há alguns anos. Lembro de um homem extremamente simpático e jovial, que falava com propriedade e grande simplicidade de seu ofício. Do Brasil, ele guardava a lembrança de sua colaboração de anos com Rosa de Libman, a famosa Madame Rosita, por quem tinha grande carinho.
Monsieur Lesage se foi, mas sua obra fica para a história da moda.