“Eu não saberia fazer outra coisa”, confessa Anderson Baumgartner com firmeza na voz. Apaixonado pelo que faz, Dando (como é conhecido pelos amigos) é em primeiro lugar um defensor ferrenho de seus modelos _que ele chama de “meninas” e “meninos”_ e sócio da Way Model Management, uma das principais agências de modelos do mercado de moda brasileiro e do mundo.
Tops internacionais como Alessandra Ambrósio, Shirley Mallmann e Carol Trentini são algumas do seu casting de “mais ou menos 150 jovens de todo tipo de beleza”. O empresário abriu as portas da sua agência _na região mais nobre da Av. Rebouças_ pra me contar um pouco dessa sua trajetória, as dores, as verdades e os mitos por trás da cobiçada profissão.
Como tudo começou?
Quando eu tinha 15 anos, morava em Itajaí (SC) e conheci duas meninas que se chamavam Gisele. Elas tinham uma agência de modelos chamada GG L’Amour e estavam prestes a fazer um desfile para a universidade Univalle, e eu me ofereci para ajudar neste desfile. Me encantei, continuei ajudando sem remuneração, a minha família pegava super no meu pé. Deixava eles falarem e continuava fazendo. A Agência Elite tinha o concurso “The Look Of The Year”. Fui até o fotógrafo Jorge Moura, responsável da minha região, e me ofereci para ajudar. Organizava filas, ajudava a montar as modelos. Até que resolvi vir para São Paulo, ainda durante a época do Morumbi Fashion.
Eventualmente você veio parar em São Paulo.
Em 1998 vim para São Paulo com R$ 250 no bolso. Fiquei batendo na porta da Elite durante uma semana: fui na segunda e mandaram voltar na terça, na quarta, na quinta e na sexta, quando avisaram que não havia vagas. Eu estava na casa de uma amiga, que era modelo de Itajaí e amiga do Zeca de Abreu, que tinha saído da Elite. Ela perguntou se eu poderia ir junto a um jantar, e foi quando ele me contou que estava começando a Agência Marilyn.
Quando tempo ficou na Marilyn e qual foi a sua história lá dentro?
Nove anos. Comecei como assistente de todos os departamentos: da agência de booking _que é a ponte entre cliente e modelo_, do departamento internacional, do material, do new face e do próprio Zeca. Fiquei nove meses nessa posição até virar booker. Depois virei diretor, até que eu e o Zeca resolvemos abrir a Way, em 2006.
E qual motivo te levou a criar um negócio próprio?
A Marilyn tinha um dono francês, que não entendia de agência e era só investidor. Nunca me incomodei em ser funcionário [...] Mas aconteceram contratempos com ele, coisas que não concordávamos, que não vêm ao caso. Eu já havia sido convidado para abrir a Way, e o Zeca quis vir comigo. Tive a surpresa que todo mundo quis ir junto, todas as modelos, funcionários. Umas 150 modelos e 33 pessoas de staff.
O staff continua o mesmo. As modelos continuam até hoje: as que não deram certo voltaram pra casa e algumas novas surgiram.
Quais são os maiores mitos que você precisa quebrar dentro de uma agência de modelos?
Algumas meninas chegam aqui em São Paulo com a família achando que em dois meses elas estarão em capas de revistas, com o bolso cheio de dinheiro. E isso não é verdade. Para ganhar dinheiro de verdade são necessários alguns bons anos de mercado. E tem gente truqueira. Pessoas abordam meninas de 1,60 m [de altura] na rua prometendo que serão modelos. Isso é mentira. A profissão de modelo é isso: tem que estar com a pele boa, cabelo bom, tem que ser alta e magra. Assim como uma jogadora de basquete precisa ter altura, impulso, força.
Financeiramente você está tranquilo?
Engana-se quem acha que dono de agência é rico. Eu, pelo menos, não sou! Os meus modelos estão sempre trabalhando. Enquanto a gente estiver trabalhando para melhorar _digo isso para os meus funcionários_ não temos motivos para preocupação.
Quando a conheci ela tinha quatorze anos. Veio num ônibus de meninos de Panambi, Rio Grande do Sul. Ela é uma pessoa muito boa, tem uma educação impecável, esse lado me conquistou desde o começo. A Carol tinha algo. Começamos uma relação de amizade _quando ela tinha quinze anos a convidei para viajar comigo para Itajaí. Temos uma relação de família, isso nunca mudou. Falo com a Carol todos os dias, mas nem sempre sobre trabalho.
E profissionalmente: como é ser agente da Carol?
Tê-la no meu casting me dá credibilidade. Uma vez a “Vogue Brasil” fez um especial sobre ela e pegamos depoimentos de algumas pessoas. Na época eu recebia e-mails diários com depoimentos de Anna Wintour, Irving Penn, Grace Coddington, Steven Meisel. Até então eu não tinha noção de como as pessoas a viam: uma modelo que veste bem a roupa, que se movimenta bem na frente de uma câmera, mas que também é uma boa pessoa.
Como você enxerga a mudança de limite para a idade das modelos que desfilam no SPFW e Fashion Rio [de 14 para 16 anos]?
Foi maravilhoso. Elas começavam muito cedo, aos 17 já tinham quatro anos de profissão e ainda não haviam se tornado modelos importantes, então desistiam. Aos quatorze elas não têm estrutura, o corpo não está formado. Isso atrapalha o desenvolvimento da menina. Aos dezesseis, elas ainda são adolescentes, mas é visível a diferença.
E a discussão do CFDA a respeito da magreza das modelos?
Tenho uma preocupação grande a respeito. Essas meninas são magras naturalmente. Aos dezesseis anos elas saem de casa desse jeito. Aos dezenove anos elas viram mulheres. A nossa preocupação é que elas lidem bem com isso. Temos psicólogos e nutricionistas para acompanhar. Mostramos para elas que existe um mercado: elas podem ganhar muito dinheiro, viajar para Nova York, fazer Victoria’s Secret, campanhas de cosméticos _que pedem mulheres lindas e com curvas. E ganhar muito mais dinheiro do que se fossem meninas fashion, que, por exigência do mercado, são as mais magras.
Em janeiro deste ano, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria sobre a magreza excessiva das modelos, ilustrada por uma foto da Alicia Kuczman.
A Alicia é uma menina que já era assim. A mãe dela, que é nutricionista, tem 87 cm de quadril. Ela tem uma mãe que a ensina a comer bem desde pequena, mas a Alicia tem uma tendência a ser magrinha. Se a saúde psicológica dela foi prejudicada, a culpa é da matéria. O jornalista de um veículo como a “Folha” tem o direito de falar o que pensa, mas a partir do momento em que ele acusa uma menina _porque antes de tudo ela é uma menina_ de ser doente, ele perde toda a credibilidade. Existe sim anorexia na moda, não estou querendo esconder.
Existe uma grande competição entre as agências?
É uma boa pergunta. O Paulo Borges [diretor criativo da Luminosidade] sempre fala uma coisa que é verdade: se as agências de modelo se unissem, tudo seria melhor para o mercado. As modelos não ficariam tanto tempo em uma prova de roupa. Não teriam que trabalhar no meio da madrugada. Mas se a minha modelo não vai para essa prova, a modelo da outra agência vai. Hoje existe uma regra que uma modelo não pode trabalhar mais que 8 horas por dia e apenas até às 22h.
Você está nesse mercado há doze anos. O que mudou?
Elas ganham mais dinheiro no Brasil. Tenho modelos que têm carreira no exterior, mas ganham mais dinheiro aqui fazendo campanhas. Há marcas de cozinha e calçados investindo em modelos, sendo que antes só usavam atrizes. E tendo bons resultados. A mídia tem dado mais valor para elas e o consumidor final também.
E o que tem mudado no mercado masculino?
Os modelos brasileiros ganham cada vez mais importância no exterior. Meninos como Evandro Soldati, Michael Camiloto, Max Motta, Francisco Lachowski, Marlon Teixeira, Thiago Santos… Tivemos muita procura de agências internacionais nos últimos meses. Acho que eles perceberam que temos meninos de todos os tipos.
Liste cinco coisas que uma modelo precisa ter:
1) Altura. 2) Medida. 3) Personalidade. 4) Saber o que quer. 5) Uma boa agência por trás dela.
Cinco coisas que uma modelo não pode ter:
1) Ser modelo só porque a mãe deseja. 2) Chegar em São Paulo e se perder com as distrações da cidade. 3) Deixar o namorado interromper a carreira. 4) Achar que beleza é tudo. 5) Achar que entende mais que o agente.
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