PESQUISA: POR THIAGO MERKLE...
O pós-guerra trouxe mudanças no comportamento das pessoas, gerando novos estilos, mais radicais, especialmente expressos por novos modos de vestir, introduzidos pelos jovens, formando movimentos que literalmente vinham das ruas, o street-style (estilos de rua). Neste mesmo período a motocicleta, que começou a ficar em evidência a partir de 1942, devido a Segunda Guerra Mundial, passa a ser difundida através de filmes emblemáticos, do universo cinematográfico, criando um forte impacto no imaginário popular.
“Wild One”, 1954, estrelado por Marlon Brando e as corridas de motocicleta em Hollister, na Califórnia, foram os elementos determinantes para o surgimento do street-style bikers (motos). Marlon aparecia em “Wild One” como o líder de uma gang de motociclistas. Sua imagem no pôster do filme, vestindo uma Perfecto, a jaqueta de couro preta, em cima de um moto, lhe conferiu uma impactante atitude de rebeldia e angústia. O estilo bikers (que em inglês significa motocicleta), propagou com força total na subcultura, muito mais do que os estilos de rua da década anterior, os Zooties e os Rhinestone Cowboys. A partir do início dos anos 50, a moda não é mais ditada pela alta costura, e sim pelas ruas da cidade, que passaram a apresentar inovações, um novo conceito do novo de se ver e a de se entender a moda.
Tudo mudou, os padrões foram invertidos, alterando para sempre o paradigma e a resistência da sociedade, que agora aconteciam em um ritmo bem mais acelerado.
Para melhor compreender a força abrangente do estilo biker” é preciso conhecer a origem do movimento e sua trajetória. O ponto de partida: tudo começou com o retorno dos jovens soldados americanos, que vieram da Segunda Guerra. Estes rapazes não queriam mais usar um terno, uma gravata e um corte de cabelo comportado. Eles não mais se encaixavam no modelo americano de uma casa standart (padrão), equipada com aparelhos domésticos, um carro standart, crianças e cachorro. A adrenalina ainda corria em suas veias, devido ao excitamento da guerra. Era muito difícil para estes rapazes, a maioria pertencente a classe trabalhadora, aceitar a conformidade das coisas, era quase que impossível para eles carregar sacolas de supermercado, para quem carregou metralhadoras B17.
Muitos destes jovens pilotaram aviões e dirigiram motocicletas durante a guerra. Porém, este modo de transporte foi somente um foco simbólico para um estilo de vida que era radicalmente diferente de tudo o que tinha sido antes. Reunidos em gangs com nomes como “The Booze Fighters” (os precursores dos Hells’s Angels), estes jovens mudaram por completo o aspecto do “New American Way”. Foram seguidos por milhares de outros jovens na América, e depois em Londres e em vários lugares da Europa, todos fortemente influenciados por Brando, sua moto e sua jaqueta de couro.
Perfecto, a indestrutível jaqueta de motocicleta usada por Brando em “The Wild One” é o clássico rebelde uniforme, que nasceu com o propósito de ser bem usual. Idealizada em 1928 por Schott Bros. a jaqueta proporcionava proteção ao corpo, no caso eventual de um acidente, foi distribuída diretamente aos motociclistas através do fabricante das motos Harley Davidson. A Perfecto foi criada por Irving Schott, que se uniu ao irmão Jack, Irving e Jack, filhos de imigrantes russos, abriram em 1913 sua empresa no East Broadway, em Manhattan (NY), fabricando peças impermeáveis, que protegiam do vento e da chuva. Em 1925, a Schott Bros. introduz blusões com feche éclair (zíper), no lugar de botões, e em 1930 passou a vender jaquetas de couro para os pilotos da Força Aérea Americana. Quando em 1954, Marlon Brando surge em Selvagens da Motocicleta em uma moto vestindo a jaqueta preta de couro Perfecto ela imediatamente torna-se um implacável sinônimo de rebeldia. E até hoje esta imagem permanece eterna, seu estilo inconfundível. Um clássico uma lenda.
Fundamentalmente, o sucesso do movimento bikers se deve ao estilo diferenciado de vestir e a sua “bad atittude”. Enquanto, por muito tempo, a alfaiataria clássica da cidade fazia ternos, atendendo ao desejo dos jovens locais de ser “dress up”, os bikers desafiaram as convenções sociais de modo estilístico e ideológico, o que no final possui o mesmo significado. Os bikers vestiam roupas velhas, gastas de tanto usar, que mostravam sua escabrosa experiência na estrada: a jaqueta preta de couro Perfecto, que muitos destes jovens bikers haviam trazido da guerra, o jeans surrados com a barra da calça virada e botas. A Perfecto se encaixa e complementa a história do jeans. Em uma cena de “Wild One” aparece o seguinte diálogo irônico: “Ele tem uma moto, ele tem uma Perfecto, e ele tem uma garota. Como ele ainda não está satisfeito?” O que os jovens bikers aspiravam: ser eles mesmos, sem se preocupar em seguir convenções sociais, sem desejar ser aceito por ninguém e o que hoje todo adolescente deseja andar por ai fazendo seu próprio estilo.
Claro, a Segunda Guerra serviu para elevar o status de certas peças de vestuário – mais notadamente a jaqueta de couro. Enquanto no início da guerra a elite militar aparecia em fardas ornamentadas com medalhas de ouro, a partir do envolvimento efetivo dos EUA, após o bombardeio em Peal Harbor, mostrou os militares vestindo a jaqueta de couro, a mesma que os bikers agora tomaram como o seu uniforme. Porém, assim que a jaqueta de couro passou a “pertencer” aos bikers, sua associação com heroísmo acabou. A associação da jaqueta de couro, então, passou a “bad attitude” ou atitude rebelde os nossos “bad boys de hoje”.
Os Bikers, no final dos anos 40 e início dos 50′s, representaram o radical surgimento da subcultura motorizada e obviamente foram os precursores das gangs de motos, “uma sociedade com parâmetros estabelecidos sob duas rodas”. Devido à época do pós-guerra, mesmo que por acaso, sem grandes intenções e ideologias, eles os bikers, mudaram notavelmente o curso da história contemporânea. A partir de então, a Perfecto, a jaqueta preta de couro, com a qual os bikers se rebelaram contra todas as convenções (sociais, políticas, culturais) tornou-se um ícone de estilo e desencadeou o conceito do “street-style”. Esta é a prova de que os bikers, dramaticamente e vividamente, mais do que qualquer outra subcultura, introduziram as noções de alternância e transtorno, a “chave de ignição” que deu partida a novos e diferentes estilos de vida, todos seguindo na carona do rock’n roll.
Depois dos bikers, outros estilos de ruas adotaram a Perfecto, em especial os ton-up boys (tribo urbana motorizada que surgiu em Londres); os rockers (início dos anos 60, eles adoravam decorar as jaquetas com botões), os greasers (meados dos 60′s) e os punks (final dos anos 70 e início dos 80′s).
Na década de 80, ela voltou à cena fashion com força. Foi usada pelos punks londrinos, por Madonna no filme Quem é Essa Garota? e por George Michael, que literalmente incendiou a sua Perfecto no clipe Freedom, em alusão a sua liberdade em se assumir homossexualidade a partir daquele momento. Estrelado pela cantora pop australiana Olivia Newton-John e pelo astro ítalo-americano
A Perfecto volta a aparecer como coadjuvante alguns anos depois no filme Top Gun lançando nada mais nada menos do que Tom Cruise.
As referências são inúmeras atualmente Lady Gaga, Hianna, Victoria Beckham, Avril Lavigne, Madonna. Estas são apenas algumas da s referências que usam a Perfecto. Final do ano passado (2009), as Angel`s (modelos da Victoria’s Secret) tiraram a foto oficial do super show anual da marca, na Times Square (NY) vestindo a Perfecto.
A jaqueta Perfecto preta, uma T-shirt branca e uma calça Jean desgastada, tornou-se o sinônimo do que chamamos Casual. Isso tudo é bem chic. Tudo isso é muito estilo. Tudo isso é história. TUDO ISSO É MODA.