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domingo, 1 de julho de 2012

Mercatino Michela, o brechó chic de Milão Por Thiago Merkle


Prada, Margella, Chanel, Hermès, Yves Saint Laurent, Versace, Ungaro, Mila Schön, Christian Dior, Jean Paul Gaultier. Há de tudo na pequena “boutique de usados”  escondida no pátio interno do número 33 da chic Via della Spiga, em Milão. Com uma vantagem: o Mercatino Michela tem preços convidativos. Localizado no mais famoso “quadrado” da moda italiana, é uma excelente opção para quem adora grifes, peças e acessórios vintage e não quer gastar muito. Um brechó de luxo que, nos últimos anos, se tornou uma sensação não só entre milaneses e turistas italianos, mas chineses, russos e árabes.
Aos 30 anos, Michela De Palma está a frente do império construído quase sem querer pela mãe, também Michela. “Tudo começou quando eu ainda não era nascida. Minha mãe organizava bazares em casa para arrecadar dinheiro para instituições de caridade. Tudo entre amigas. O que era só venda, virou troca e hoje temos quatro brechós na cidade”, conta a simpática Michela filha.
Vestidos, bolsas, paletós, trench coats, calças, tailleurs e sapatos, tudo de segunda-mão, mas em perfeito estado e selecionado pessoalmente pela dona. Sabe aquela bolsa Prada, último lançamento, que nas boutiques da grife italiana custa 1.500 euros? Pois no Mercatino Michela há uma na cor branca, em ótimo estado, pela metade do preço. “Muitos dos nossos clientes da via della Spiega nos trazem vestidos e acessórios que usaram uma ou duas vezes. Só coloco à venda peças que estejam perfeitas”, explica. A única excessão fica por conta dos sapatos: devem ser novos, jamais usados. “Uma questão de higiene”, frisa.
A venda do produto de segunda-mão vale a pena não só para a cliente que deixou a peça como para o consumidor final. Michela faz a divisão do vestuário (compra e venda) de acordo com a estação. “Durante os meses de fevereiro e julho, selecionamos roupas de verão. De setembro à janeiro, as de inverno”, explica. O preço é sempre determinado de comum acordo: 50% fica para o Mercatino e 50% vai para a cliente que deixou a peça em “consignação”. Se não for vendida, basta passar na loja e retirar a mercadoria.


Nesses mais de 30 anos de história, o Mercatino Michela – que nasceu oficialmente em 1979 – passou da Michela mãe para a Michela filha. O mundo se globalizou. A Europa e os Estados Unidos passam por uma série crise econômica, a ecologia não é mais só matéria de ciências mas uma preocupação mundial e reciclar é um necessidade. A tudo isso Michela ainda acrescenta dois fatores fundamentais dos dias de hoje para os amantes da moda: qualidade e preço. Unir o útil ao agradável é sinônimo de inteligência. “O mercado do usado ainda é visto com alguma reticência. Os clientes que viajam muito e que sabem avaliar o que é um bom produto sempre voltam. As filhas de nossas clientes são nossas clientes”, conta Michela.
O consumidor estrangeiro, principalmente dos países emergentes, é eclético. “Os chineses só se interessam por bolsas, acessórios e sapatos. Para eles, roupa usada ainda é tabu.  Mas diante de um par de sapatos Christian Louboutin ou Jimmy Choo, perdem a cabeça”, se diverte Michela. Já os árabes não deixam de provar os vestidos de festa. No entanto, não são apenas os “novos” turistas e clientes habituais que frequentam o brechó da via della Spiega. Personal shoppers, nobres e colecionadores sempre dão uma passadinha. Há até mesmo alguns excêntricos que compram peças que não lhes servem. “Uma senhora levou um vestido número 40 sem provar. O mais engraçado é que ela vestia 48”, relembra. Perguntada pela proprietária por que estava comprando o vestido, a resposta foi uma só: “É pequeno, mas é tão bonito que só de olhar pendurado já fico feliz”.
A paixão pela moda, passada de de mãe para a filha, também gerou novas ideias. Há um ano, as duas Michelas decidiram criar a MI79 (Mi de Milão e de Michela e 79 do ano em que nasceu o Mercatino), um espaço dedicado ao aluguel e empréstimo de roupas e acessórios para ensaios fotográficos, filmes, propaganda e séries televisivas. “São peças que minha mãe foi colocando de lado. E que se distiguem porque são únicas, algumas até excêntricas”, orgulha-se Michela filha. “É a nossa coleção de uma pequeníssima parte da história da moda”.
Em breve, o próximo passo será inaugurar as vendas on-line e, quem sabe, expandir o Mercatino di Michela. “Talvez até no Brasil… ”, sugere Michela, que convida os turistas brasileiros a darem uma passadinha em um dos quatro bazares. A boutique com artigos das melhores grifes fica em via della Spiga. Em via Marghera e em viale Regina Giovanna, é possível encontrar roupas de todos os tipos, inclusive para o público masculino, enquanto que via Corridoni há uma vasta oferta de vestuário e antiquariato.