Com vocês, o diário de
Daniela Falcão, diretora de redação da
Vogue Brasil
, do terceiro dia da temporada de
inverno 2013 na semana de
alta-costura em Paris, nesta quarta-feira (04.07).
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Da Vogue Brasil, a diretora de estilo Donata Meirelles, Daniela Falcão,
diretora de redação e o colunista Bruno Astuto antes do desfile da
Valentino, no dia 3 da semana de alta-costura em Paris | | |
Com menos de seis horas de sono (de novo), fui acordada às 7h pela
telefonista do hotel (de novo) na expectativa de que conseguiria dar uma
corridinha. Boa notícia é que, como dessa vez meu primeiro compromisso
era só às 10h30, consegui me levantar às 8h e pouco e lá fui encarar as
Tuileries.
Num ritmo que em nada lembra férias (e oficialmente estou de férias),
senti no corpo os excessos (salto alto o tempo todo, falta de tempo para
uma tacinha no meio da tarde) de ontem e me arrastei na corrida de 40
minutos (4 voltas completas nas Tuileries). Mas tira a nhaca, faz você
suar e há sempre uns gatóns correndo. Voltei a tempo da ducha gelada e
de me arrumar para o primeiro compromisso do dia, ver de perto a coleção
de
haute joaillerie da
Chanel no Museu do Quai Branly, grudado na Torre Eiffel.
Como tudo o que a Chanel faz, a cenografia era deslumbrante. Enquanto
esperava Bruno Astuto chegar, eu e Nathalie Rumpf, a adorável PR da
Chanel no Brasil (ok, a palavra ficou meio cafona, mas a Nath é
supercool
e não tem melhor maneira de descrevê-la), ficamos no terraço do topo do
museu admirando a vista da torre e da Rive Gauche, tomando
orange pressée
e café, perfeito já que saí na correria. A coleção em si é quase
exclusivamente de brilhantes, com muitas estrelas e cometas, e foi
mostrada numa sala escura, literal e hermeticamente falando (o Bruno
quase passa mal de claustrofobia). O pretume tinha motivo: ressaltar o
brilho dos diamantes, obviamente. Esta coleção chama-se
1932,
em homenagem à uma que Coco fez nesta data, justamente para atender ao
pedido dos lapidadores para fazer com que as mulheres voltassem a
desejar joias feita só com os brilhantes. Fica um pouco monótono, ainda
que uma safira azul tenha quebrado o clima aqui e ali, mas quem vai
reclamar de uma apresentação que tem direito até a planetário particular
e filminho original sobre a coleção de 1932?
Bom, nos despedimos da Nathalie e fomos voando para o 21 da Place
Vendôme, onde fica o prédio inteirinho que abrigava o ateliê de
Elsa Schiaparelli – e que volta à vida agora pelas mãos de
Diego Della Valle,
da Tod’s. Ainda não foi escolhido o estilista que terá a função de
reviver a marca, mas nas rodas de insiders só há um nome pra valer: John
Galliano,
bien sûr. Enquanto isso não é definido, Diego trata de insuflar o
hype convidando a elite fashion para visitar os aposentos particulares de Schiap, que foram turbinados com
décor de
Vincent Darré, o mais surrealista dos designers de interiores contemporâneos. E acerta no alvo ao convocar a estonteante e
forever elegant Farida Khelfa para ser embaixatriz da marca em sua nova fase.
Farida recebe todos com uma simpatia de dar gosto, conta feliz que
Lagerfeld, Alaïa e Gaultier foram em pessoa visitar o lugar e que todo
mundo torce para que a marca volte com tudo. De fato, só de olhar os
frascos de perfumes assinados por Dalí e seu gosto excêntrico e
provocante, mas muito feminino, dá vontade de comprar todas as roupas da
futura marca, antes mesmo de ver qualquer croqui. Todo mundo passou por
lá nesta manhã, o fotógrafo Nick Night, Alexia Niedzielski com sua
sócia Elizabeth von Guttman, Cacá de Souza, Suzy Menkes. Saímos correndo
porque estávamos megatrasados para o desfile de
Elie Saab, que aconteceu ali pertinho, na Rue Cambon.
Se alguém estava reclamando de brilho na couture, bom, o desfile do
libanês é um antídoto à limpeza estética. Muitos brilhantes aplicados em
voile, vestidos de ninfa, outros com apliques dourados sobre rosa e
azul… É forte, talvez às vezes pesado demais, mas vi vários looks que
escolheria para vestir Emma Stone ou Elle Fanning no
red carpet
e mais uma penca de looks perfeitos para madrinhas que querem brilhar.
Fato é que é disso que sua clientela gosta, e Saab não é bobo nem nada e
sabe atender ao gosto de suas fiéis clientes do Oriente Médio, que
estavam todas, aliás, sentadas na primeira fila. Karlie Kloss vestiu os
melhores looks (ou será que os looks sempre ficam melhores nela?) e o
vestido de final, de tão estonteante, me fez ter vontade de levantar e
ajudar a modelo-noiva a carregar todo aquele fardo.
O bom de desfiles ricos assim é que todo mundo sai da sala achando que
pode tudo, e era assim que estava me sentindo. De novo atrasados, voamos
para o L’Avenue, onde nos esperava
Rosangela Lyra, sentada ao lado de…
Raf Simons, sim, ele mesmo, o novo diretor criativo da Dior, que havia acabado de estrear sua coleção couture.
Parecia que todos os PRs haviam escolhido o L’Avenue para almoçar
naquele dia: a Cristiana da Fendi estava lá, a Blue da Louis Vuitton,
Valerianne da Dior com a gente… Depois de debatermos todo o planejamento
de cobertura da
Vogue para o segundo semestre (tem muita surpresa boa vindo aí), fomos visitar a coleção de
haute joaillerie da Dior by
Victoire de Castellane,
ali do outro lado da rua, na Avenue Montaigne, 30. A coleção era
compacta, mas cheia de pedras coloridas bem ao estilo da Victoire, que é
minha designer de joias favorita no mundo. Ela chegou simpática para
falar com a gente e, falante como sempre, disse que não vê a hora de ser
chamada para visitar o Brasil. Bruno fez a maior festa, pareciam
conhecidos de longa data (
that is Bruno!) e, quando ele disse
que ela poderia ser brasileira, Victoire, mostrando seu bom humor sem
papas na língua, respondeu: “só se for no tamanho da minha bunda”. Na
mesma Dior vimos ainda todos os novos lançamentos de relógio da coleção
one of a kind,
deu até vontade de comprar um! Na saída, Rosangela Lyra deu uma
roubadinha e nos levou para ver de perto as roupas da couture,
oportunidade única e maravilhosa, ainda que essas primeiras peças de Raf
não tenham me empolgado muito.
Missão cumprida, tínhamos uma hora livre e demos uma passada no hotel
(para mim) e na casa da Donata (para o Bruno). Reunimo-nos na sequência e
seguimos para o Trocadero, onde aconteceu a apresentação da coleção da
Van Cleef & Arpels chamada
Palais de la Chance.
Isso significa que a grife — que acaba de abrir loja no Brasil no Jk
Iguatemi — selecionou todos os símbolos de sorte de todas as culturas do
mundo, do unicórnio ao dragão, do morango — sorte no amor — ao sapo, e
por aí vai! Achei bem fofa a coleção, ainda que, de tão lúdica, você às
vezes fica com a impressão de que nem parece alta joalheria.
Findo o périplo, seguimos para o desfile da
Valentino, que acabou se consolidando como o melhor da temporada, forte e
fresh
ao mesmo tempo, com peças de construção magistral, algumas de tecidos
lisos e corte bem minimalista. Mas também estavam lá excelentes
bordados, ouro, incríveis estampas florais… Difícil explicar, só estando
lá para entender a emoção. Justo a emoção que faltou ao badalado
desfile de estreia de Simons na Dior. Bom, como era Valentino, todo
mundo estava lá: de Anna Wintour e Emanuelle Alt à Nicky Hilton, Olivia
Palermo e Clémence Poésy (linda e educada, sentou do nosso lado), de
Kanye West e Kim Kardashian à Charlene Shorto e Andrea Delal. Sentada na
primeira fila ao lado da mãe, a filha caçula de Pier Paolo, que com
Maria Grazia é o DNA da nova Valentino, resumiu o espírito
fresh, ainda que
power. E quem não quer um equilíbrio deste. Foi o melhor desfile, pronto falei.
Do Valentino fomos tomar uma ducha rápida para nos prepararmos para a
maratona de duas festas da noite. A primeira, na casa de Alex Allard,
dono da Faith Connection e que vai remodelar a região da Bela Vista, em
São Paulo, com seu complexo hoteleiro-cultural e de compras… aguardem!
Lá, encontrei os sempre queridos Martine e Armand Hadida, com Wendy, a
filha que parece a cachinhos dourados versão
grown-up e que
fazia aniversário hoje (comemoração no Rasputin!). Também conhecemos a
artista plástica portuguesa Joana Vasconcelos, que contou que em 2013
traz suas obras para uma retrospectiva sua nos CCBBs do Rio de Janeiro,
São Paulo e Brasília. Estamos loucos pra ver de perto!!
MAIS: Ana Clara Garmendia e Paulo Mariotti, colaboradores da
Vogue em Paris, contam detalhes sobre o desfile de
Jean Paul Gaultier e as apresentações dos alunos
Atelier Chardon Savard, leia na sequência.
Dia de apresentação de
Jean Paul Gaultier na couture
Paris é momento de buchicho certo na cidade. Queridinho de atrizes,
cantoras e socialites das mais diferentes nacionalidades, o
enfant terrible
da moda francesa é capaz de fazer todo mundo esperar pacientemente mais
de uma hora para ver sua apresentação começar, ou quase todo mundo.
Depois de 50 min de atraso, a organização avisa: “pedimos a compreensão
de todos, mas o show vai começar em 20 min”. Bethy Lagardère levanta e
vai embora. Devia ter compromisso importante. Já Bette Midler ficou
quietinha, esperando. Todo mundo ama Gaultier e sua história de amor com
o cinema e a música lhe abrem precedentes incríveis. É uma paixão
coletiva. A apresentação começa e a gente não tira o olho das tops como
Karlie Kloss, deslumbrante em roupas que passeiam entre o universo
dandy
e um clima que viaja entre todas as fases do estilista. Personagens
saídos de filmes de vampiros, dos anos 20, mas também futuristas. Peles,
brilhos, bordados super trabalhados. Gaultier faz escola na moda pela
capacidade de tecer macramês incríveis, técnica desenvolvida nos tempos
em que foi aprendiz de
monsieur Lesage, o mestre da
broderie
francesa, morto no ano passado. De novidade, nada, mas de
excentricidade tudo. A presença de homens no desfile garante o tom de
abuso. Afinal couture era para ser coisa apenas de mulheres, mas Jean
Paul não quer saber de regras. Em seu terreno quem manda é ele, então,
Andrej Pejic vira estrela em vestidos ultra femininos, justos, longos,
bordados e transparentes. Os
boys que não ganharam apresentação
na semana de moda masculina da semana passada, agora tem seu momento de
redenção. Gaultier é pura contravenção. (
ANA CLARA GARMENDIA)
A semana da alta costura está a cada estação mais dinâmica. Se o número dos desfiles das grandes
maisons diminuiu consideravelmente, já há vários anos a chegada dos jovens estilistas da cena
off-couture
vem alimentando a criação com sangue novo. Agora, até mesmo os
estudantes de moda tem sua vez no concorrido calendário, graças ao
desfile dos alunos do Atelier Chardon Savard. O desfile, que aconteceu
hoje de manhã na Garage Turenne, foi um
best of dos trabalhos
de fim de ano dos alunos em final de percurso acadêmico. Se não se pode
falar ainda, é claro, de coleções profissionais, o nível do trabalho
apresentado foi realmente muito bom, tanto no quesito criatividade
quanto na realização das peças. A stylist australiana
Catherine Baba
e o dono da multimarcas RA Romain Brau, presentes na fila A, se
entusiamaram com o trabalho dos meninos. Muita cor e sobretudo muito bom
humor nas 17 mini coleções apresentadas. Uma bela iniciativa. (
PAULO MARIOTTI)