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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Diário de couture, inverno 2013: joias, Valentino e o melhor do dia 3

Com vocês, o diário de Daniela Falcão, diretora de redação da Vogue Brasil, do terceiro dia da temporada de inverno 2013 na semana de alta-costura em Paris, nesta quarta-feira (04.07).
Da Vogue Brasil, a diretora de estilo Donata Meirelles, Daniela Falcão, diretora de redação e o colunista Bruno Astuto antes do desfile da Valentino, no dia 3 da semana de alta-costura em Paris  
 Com menos de seis horas de sono (de novo), fui acordada às 7h pela telefonista do hotel (de novo) na expectativa de que conseguiria dar uma corridinha. Boa notícia é que, como dessa vez meu primeiro compromisso era só às 10h30, consegui me levantar às 8h e pouco e lá fui encarar as Tuileries.

Num ritmo que em nada lembra férias (e oficialmente estou de férias), senti no corpo os excessos (salto alto o tempo todo, falta de tempo para uma tacinha no meio da tarde) de ontem e me arrastei na corrida de 40 minutos (4 voltas completas nas Tuileries). Mas tira a nhaca, faz você suar e há sempre uns gatóns correndo. Voltei a tempo da ducha gelada e de me arrumar para o primeiro compromisso do dia, ver de perto a coleção de haute joaillerie da Chanel no Museu do Quai Branly, grudado na Torre Eiffel.

Como tudo o que a Chanel faz, a cenografia era deslumbrante. Enquanto esperava Bruno Astuto chegar, eu e Nathalie Rumpf, a adorável PR da Chanel no Brasil (ok, a palavra ficou meio cafona, mas a Nath é supercool e não tem melhor maneira de descrevê-la), ficamos no terraço do topo do museu admirando a vista da torre e da Rive Gauche, tomando orange pressée e café, perfeito já que saí na correria. A coleção em si é quase exclusivamente de brilhantes, com muitas estrelas e cometas, e foi mostrada numa sala escura, literal e hermeticamente falando (o Bruno quase passa mal de claustrofobia). O pretume tinha motivo: ressaltar o brilho dos diamantes, obviamente. Esta coleção chama-se 1932, em homenagem à uma que Coco fez nesta data, justamente para atender ao pedido dos lapidadores para fazer com que as mulheres voltassem a desejar joias feita só com os brilhantes. Fica um pouco monótono, ainda que uma safira azul tenha quebrado o clima aqui e ali, mas quem vai reclamar de uma apresentação que tem direito até a planetário particular e filminho original sobre a coleção de 1932?

Bom, nos despedimos da Nathalie e fomos voando para o 21 da Place Vendôme, onde fica o prédio inteirinho que abrigava o ateliê de Elsa Schiaparelli – e que volta à vida agora pelas mãos de Diego Della Valle, da Tod’s. Ainda não foi escolhido o estilista que terá a função de reviver a marca, mas nas rodas de insiders só há um nome pra valer: John Galliano, bien sûr. Enquanto isso não é definido, Diego trata de insuflar o hype convidando a elite fashion para visitar os aposentos particulares de Schiap, que foram turbinados com décor de Vincent Darré, o mais surrealista dos designers de interiores contemporâneos. E acerta no alvo ao convocar a estonteante e forever elegant Farida Khelfa para ser embaixatriz da marca em sua nova fase.

Farida recebe todos com uma simpatia de dar gosto, conta feliz que Lagerfeld, Alaïa e Gaultier foram em pessoa visitar o lugar e que todo mundo torce para que a marca volte com tudo. De fato, só de olhar os frascos de perfumes assinados por Dalí e seu gosto excêntrico e provocante, mas muito feminino, dá vontade de comprar todas as roupas da futura marca, antes mesmo de ver qualquer croqui. Todo mundo passou por lá nesta manhã, o fotógrafo Nick Night, Alexia Niedzielski com sua sócia Elizabeth von Guttman, Cacá de Souza, Suzy Menkes. Saímos correndo porque estávamos megatrasados para o desfile de Elie Saab, que aconteceu ali pertinho, na Rue Cambon.

Se alguém estava reclamando de brilho na couture, bom, o desfile do libanês é um antídoto à limpeza estética. Muitos brilhantes aplicados em voile, vestidos de ninfa, outros com apliques dourados sobre rosa e azul… É forte, talvez às vezes pesado demais, mas vi vários looks que escolheria para vestir Emma Stone ou Elle Fanning no red carpet e mais uma penca de looks perfeitos para madrinhas que querem brilhar. Fato é que é disso que sua clientela gosta, e Saab não é bobo nem nada e sabe atender ao gosto de suas fiéis clientes do Oriente Médio, que estavam todas, aliás, sentadas na primeira fila. Karlie Kloss vestiu os melhores looks (ou será que os looks sempre ficam melhores nela?) e o vestido de final, de tão estonteante, me fez ter vontade de levantar e ajudar a modelo-noiva a carregar todo aquele fardo.


O bom de desfiles ricos assim é que todo mundo sai da sala achando que pode tudo, e era assim que estava me sentindo. De novo atrasados, voamos para o L’Avenue, onde nos esperava Rosangela Lyra, sentada ao lado de… Raf Simons, sim, ele mesmo, o novo diretor criativo da Dior, que havia acabado de estrear sua coleção couture.

Parecia que todos os PRs haviam escolhido o L’Avenue para almoçar naquele dia: a Cristiana da Fendi estava lá, a Blue da Louis Vuitton, Valerianne da Dior com a gente… Depois de debatermos todo o planejamento de cobertura da Vogue para o segundo semestre (tem muita surpresa boa vindo aí), fomos visitar a coleção de haute joaillerie da Dior by Victoire de Castellane, ali do outro lado da rua, na Avenue Montaigne, 30. A coleção era compacta, mas cheia de pedras coloridas bem ao estilo da Victoire, que é minha designer de joias favorita no mundo. Ela chegou simpática para falar com a gente e, falante como sempre, disse que não vê a hora de ser chamada para visitar o Brasil. Bruno fez a maior festa, pareciam conhecidos de longa data (that is Bruno!) e, quando ele disse que ela poderia ser brasileira, Victoire, mostrando seu bom humor sem papas na língua, respondeu: “só se for no tamanho da minha bunda”. Na mesma Dior vimos ainda todos os novos lançamentos de relógio da coleção one of a kind, deu até vontade de comprar um! Na saída, Rosangela Lyra deu uma roubadinha e nos levou para ver de perto as roupas da couture, oportunidade única e maravilhosa, ainda que essas primeiras peças de Raf não tenham me empolgado muito.


Missão cumprida, tínhamos uma hora livre e demos uma passada no hotel (para mim) e na casa da Donata (para o Bruno). Reunimo-nos na sequência e seguimos para o Trocadero, onde aconteceu a apresentação da coleção da Van Cleef & Arpels chamada Palais de la Chance. Isso significa que a grife — que acaba de abrir loja no Brasil no Jk Iguatemi — selecionou todos os símbolos de sorte de todas as culturas do mundo, do unicórnio ao dragão, do morango — sorte no amor — ao sapo, e por aí vai! Achei bem fofa a coleção, ainda que, de tão lúdica, você às vezes fica com a impressão de que nem parece alta joalheria.

Findo o périplo, seguimos para o desfile da Valentino, que acabou se consolidando como o melhor da temporada, forte e fresh ao mesmo tempo, com peças de construção magistral, algumas de tecidos lisos e corte bem minimalista. Mas também estavam lá excelentes bordados, ouro, incríveis estampas florais… Difícil explicar, só estando lá para entender a emoção. Justo a emoção que faltou ao badalado desfile de estreia de Simons na Dior. Bom, como era Valentino, todo mundo estava lá: de Anna Wintour e Emanuelle Alt à Nicky Hilton, Olivia Palermo e Clémence Poésy (linda e educada, sentou do nosso lado), de Kanye West e Kim Kardashian à Charlene Shorto e Andrea Delal. Sentada na primeira fila ao lado da mãe, a filha caçula de Pier Paolo, que com Maria Grazia é o DNA da nova Valentino, resumiu o espírito fresh, ainda que power. E quem não quer um equilíbrio deste. Foi o melhor desfile, pronto falei.

Do Valentino fomos tomar uma ducha rápida para nos prepararmos para a maratona de duas festas da noite. A primeira, na casa de Alex Allard, dono da Faith Connection e que vai remodelar a região da Bela Vista, em São Paulo, com seu complexo hoteleiro-cultural e de compras… aguardem! Lá, encontrei os sempre queridos Martine e Armand Hadida, com Wendy, a filha que parece a cachinhos dourados versão grown-up e que fazia aniversário hoje (comemoração no Rasputin!). Também conhecemos a artista plástica portuguesa Joana Vasconcelos, que contou que em 2013 traz suas obras para uma retrospectiva sua nos CCBBs do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Estamos loucos pra ver de perto!!


 MAIS: Ana Clara Garmendia e Paulo Mariotti, colaboradores da Vogue em Paris, contam detalhes sobre o desfile de Jean Paul Gaultier e as apresentações dos alunos Atelier Chardon Savard, leia na sequência.


Dia de apresentação de Jean Paul Gaultier na couture Paris é momento de buchicho certo na cidade. Queridinho de atrizes, cantoras e socialites das mais diferentes nacionalidades, o enfant terrible da moda francesa é capaz de fazer todo mundo esperar pacientemente mais de uma hora para ver sua apresentação começar, ou quase todo mundo. Depois de 50 min de atraso, a organização avisa: “pedimos a compreensão de todos, mas o show vai  começar em 20 min”. Bethy Lagardère levanta e vai embora. Devia ter compromisso importante. Já Bette Midler ficou quietinha, esperando. Todo mundo ama Gaultier e sua história de amor com o cinema e a música lhe abrem precedentes incríveis. É uma paixão coletiva. A apresentação começa e a gente não tira o olho das tops como Karlie Kloss, deslumbrante em roupas que passeiam entre o universo dandy e um clima que viaja entre todas as fases do estilista. Personagens saídos de filmes de vampiros, dos anos 20, mas também futuristas. Peles, brilhos, bordados super trabalhados. Gaultier faz escola na moda pela capacidade de tecer macramês incríveis, técnica desenvolvida nos tempos em que foi aprendiz de monsieur Lesage, o mestre da broderie francesa, morto no ano passado. De novidade, nada, mas de excentricidade tudo. A presença de homens no desfile garante o tom de abuso. Afinal couture era para ser coisa apenas de mulheres, mas Jean Paul não quer saber de regras. Em seu terreno quem manda é ele, então, Andrej Pejic vira estrela em vestidos ultra femininos, justos, longos, bordados e transparentes. Os boys que não ganharam apresentação na semana de moda masculina da semana passada, agora tem seu momento de redenção. Gaultier é pura contravenção. (ANA CLARA GARMENDIA)
A semana da alta costura está a cada estação mais dinâmica. Se o número dos desfiles das grandes maisons diminuiu consideravelmente, já há vários anos a chegada dos jovens estilistas da cena off-couture vem alimentando a criação com sangue novo. Agora, até mesmo os estudantes de moda tem sua vez no concorrido calendário, graças ao desfile dos alunos do Atelier Chardon Savard. O desfile, que aconteceu hoje de manhã na Garage Turenne, foi um best of dos trabalhos de fim de ano dos alunos em final de percurso acadêmico. Se não se pode falar ainda, é claro, de coleções profissionais, o nível do trabalho apresentado foi realmente muito bom, tanto no quesito criatividade quanto na realização das peças. A stylist australiana Catherine Baba e o dono da multimarcas RA Romain Brau, presentes na fila A, se entusiamaram com o trabalho dos meninos. Muita cor e sobretudo muito bom humor nas 17 mini coleções apresentadas. Uma bela iniciativa. (PAULO MARIOTTI)