Como se fazia nos áureos tempos da haute couture, Pedro Lourenço optou por uma apresentação intimista, para pequenos grupos, numa passarela improvisada no Baretto, no Hotel Fasano. Sem música, sem invencionices de styling, nada que tirasse a atenção das verdadeiras estrelas: as roupas.
“As pessoas conhecem muito meu nome, mas não meu produto”, justificou o estilista de 20 anos sobre o formato do desfile e a ideia de explicar detalhadamente cada look. Podia ficar frio, podia ser tenso (o silêncio é sempre desconcertante, não?), mas foi a melhor coisa que aconteceu nesta edição do SPFW.
Pedro, filho de dois medalhões da moda nacioal – Reinaldo Lourenço e Gloria Coelho – mostrou sua coleção resort, que já havia sido exibida para a imprensa na semana passada, em Nova York. Inspirado pelas aquarelas de Rugendas e Debret, o estilista conseguiu o que poucos conseguem: falar de brasilidade (hit master desta temporada) de um jeito cool e chique com “c” maiúsculo. Mais: apesar do tema orgânico, não deixar de lado seu DNA geométrico e seu amor pelos tecidos estruturados.
Paisagens tropicais e araras desenhadas por Lelli de Orleans e Bragança estrelaram vestidos-tubo boxy de neoprene dublado com seda, no shape 60 que Pedro tanto ama; tops de jérsei de seda, segundo ele as peças mais acessíveis da coleção; e maiôs de modelagem deliciosamente retrô (exibiam na frente uma microssaia cinquentinha).
Detalhe: eram maiôs de fato, para molhar, não meros collants. As peças, de fundo off-white, abusavam todas dos verticalismo que o estilista usa desde a primeira coleção: trazia blocos alongados de cores como azul e amarelo. “Uso esse artifício para alongar a silhueta, mesmo, acho que a mulher fica mais elegante longilínea”, disse.
A alfaiataria também marcou presença em poucos coat-dressesde corte quadrado e ótimas calças cigarette. Mas os couros – nesse caso, lona resinada com aspecto de couro –, grande paixão de Pedro, não poderiam ficar de fora. Destaque para os absurdos tubos funcionais, com zíperes que, abertos, revelavam estampas e tweeds levinhos de verão. Magnetos faziam as vezes de costura, grudando as extremidades que ficam soltas quando os zíperes são abertos e possibilitando mil e uma versões da roupa. “Quanto menos costura, mais contemporâneas as peças”, explica. Ele, um virtuose que tem boas ideias, executa-as de forma magistral e, como é típico das novas gerações de criadores geniais, tem ótimo tino comercial. De cair o queixo!
Deu certo: O formato old school de apresentação da coleção, intimista, para pequenos grupos, numa passarela improvisada no Baretto, no Hotel Fasano, e com o Pedro explicando look por look ao microfone
Quero já: Basicamente a coleção inteira. Mas, para começar, um tubo de neoprene dublado com seda e estampa de arara by Lelli de Orleans e Bragança
Que bom: Perceber em Pedro um criador completo: boas ideias, coerência criativa, execução perfeita e tino comercial