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domingo, 10 de abril de 2011

Entrevista Chic, parte 1: "Nunca ninguém cortou a minha criatividade", diz Alexandre Herchcovitch sobre InBrands

MODA ....

Entrevista Chic, parte 1: "Nunca ninguém cortou a minha criatividade", diz Alexandre Herchcovitch sobre InBrands..


Alexandre
Alexandre Herchcovitch nos bastidores do desfile de inverno 2011, em Nova York
estilista Alexandre Herchcovitch completa, em agosto de 2011, três anos de sociedade com a InBrands – holding que administra marcas como Ellus, Richards, Salinas, Isabela Capeto, Luminosidade etc.. 


De lá para cá, o estilista abriu uma loja no Rio de Janeiro, mudou de endereço em Tóquio e, recentemente, em São Paulo – a loja da rua Melo Alves, nos Jardins, tem 400 m², contra 180 m² da que ficava na Haddock Lobo. Isso sem contar os licenciamentos – todo mês tem novidade; a próxima, anote: uma linha de papel de parede com a Tok&Stok.

Parece que tudo vai bem para você? Para ele também, mas, como se diz por aí, nem tudo são flores. Confira abaixo a primeira parte (de quatro) da entrevista que o Chic fez com Alexandre Herchcovitch em que ele fala sobre InBrands e as dificuldades desse formato de negócio, ainda novo no Brasil.

Em 2008, quando assinou o contrato com a InBrands, você disse em entrevista ao Chic que iria reforçar e dividir as marcas – herchcovitch;alexandre, de prêt-à-porter, e herchcovitch, de jeanswear –, e abrir lojas só com essa segunda linha naquele mesmo ano, o que não aconteceu. E agora, ainda tem essa ideia de separar as etiquetas?

Não sei ainda. Eu não acho um problema mudar de projeto. Lá era uma ideia, mas no meio disso tudo, com o crescimento, a diversificação de produtos que a gente começou a ter, a ideia que eu tive foi de, em vez de ter uma loja separada, ter uma loja muito maior que abrigasse todas as linhas. Então, realmente mudou da água pro vinho, mas não tenho problemas com mudanças e coisas do gênero.

Essa mudança estratégica não tem nada a ver com crise econômica de 2008 ou algum outro problema?
Não, de jeito nenhum. Pelo contrário, eu jamais abriria uma loja de 400 m² se estivesse em crise. A gente fecharia loja! Quero que a pessoa entre na loja e tenha acesso a todos os produtos que a gente cria. Assim, eles conseguem entender a coerência e acaba com aquele ‘ai o Alexandre faz muita coisa’, eu não faço mais do que uma marca estabelecida que tem licenciamento de óculos, de relógios, de tudo. As grandes marcas fazem isso.

Mas você faz mais do que os outros estilistas brasileiros, não faz?
Eu acho que sim, porque a procura é muito grande das indústrias para se unirem a nós. Acho também que eu me arrisquei mais do que os outros estilistas.

Em entrevista a coluna da jornalista Sonia Racy no jornal O Estado de S.Paulo, você disse que a sua sociedade com a InBrands ainda não tinha “dado certo”, por quê?
Porque ainda tem ajustes, não posso dizer que está 100% certo. Ainda tem muitos pontos para acertar.

Quais são esses pontos, por que é tão difícil no Brasil acertar esses ponteiros?
É muito difícil, realmente, é difícil, tem que ter muita paciência, muita paixão por aquilo que você faz e muita vontade de seguir em frente.  Acho que hoje o que mais falta são eles, os empresários que controlam as marcas, entenderem a diferença entre as marcas do grupo. Por exemplo, entender que o jeito de fazer roupa e comercializar roupa na Ellus não serve para mim; o jeito de fazer roupa na Salinas não serve para Ellus – estou falando só da InBrands. Isso é uma coisa que os grupos lá fora já entenderam muito bem. Ninguém descaracteriza as marcas. A Louis Vuitton compra uma marca pequena e não fala: ‘toda sua roupa é feita à mão, ah, vamos esquecer e fazer tudo à máquina’.  Acho que é esse respeito, não é nem respeito, é respeito/inteligência de saber exatamente o que cada marca é e como cada marca faz seus produtos, que falta aqui no Brasil.

Se você pasteuriza ou coloca no mesmo saco marcas completamente diferentes, alguma coisa você vai perder. Ou o cliente ou vai descaracterizar uma marca e isso, com o tempo, vai ser ruim, vai ficar tudo igual. Por exemplo, se você é cliente Alexandre Herchcovitch e na loja tem uma camisa com o mesmo xadrez da Ellus ou com o mesmo corte, você fala ‘desculpa, não é isso que eu quero, queria o Alexandre de 20 anos atrás, transgressor, que eu conhecia’. O grande receio que eu tenho é de perder cliente. Mas isso não está acontecendo. Você entra na minha loja e vê peças do desfile, ninguém deixa de produzir nada.

Mas acho que ainda tem o que aprender; um aprender com o outro. Eu preciso aprender o que eles querem ser, o tamanho que eles querem ser, e eles aprenderem a me diferenciar de uma marca grande do grupo deles.

É então uma questão de mentalidade administrativa?
Tem que entender o que se está comprando antes de comprar. A minha marca é semi-artesanal, a gente não produz numa escala de uma marca de jeans, não é a escala da Ellus, tem muita coisa que é acabada à mão, que requer muitos cuidados, cuidados de embalagem, de como pendurar no cabide... Se você perde isso, descaracteriza a marca. 

Você tem medo de se perder?
Não tenho medo. Faço de tudo e explico com a maior coerência para os meus sócios as coisas que eu necessito para ter condições de trabalho e, por enquanto, nunca ninguém cortou a minha criatividade, ninguém falou  ‘ah, você vai fazer um desfile todo preto? Vai ficar muito fúnebre. Não faça’.

Eles não opinam?
Nada. Eles só veem o produto quando está acabado. Sou super respeitado lá dentro e estou muito feliz onde estou. Ter dificuldades eu tive no meu outro tipo de gestão, então, ter dificuldade não é novidade. É que antes ninguém me perguntava.

Entrevista Chic, parte 2: "não queiram ser estilistas da própria marca", aconselha Herchcovitch à nova geração...

Alexandre

Alexandre Herchcovitch é o representante mais expressivo da geração 1990: estilistas que fizeram faculdade de moda e saíram do underground paulistano para as passarelas. Ele acompanhou e foi personagem do amadurecimento das semanas de moda no Brasil e da mudança do perfil do consumidor, tanto do que compra luxo quanto da nova classe C.  

Aqui, na segunda etapa da entrevista ao, ele comenta o mercado de moda atual no país.
Você acha que o Brasil tem estrutura para competir com as etiquetas grandes que estão vindo para cá e ainda com preços não muito acima das marcas nacionais?
O Brasil ainda está muito longe dos standards de luxo que eu conheço das marcas de fora. A marca mais luxuosa brasileira ainda está atrás da marca menos luxuosa francesa. Em design, a gente está igual. Estou falando de outras coisas, de coisas simples, estou falando de mão de obra especializada, tecido, embalagem, tratamento e em um monte de outras coisas que o Brasil não tem cultura. Não é que o Brasil não é bom, o Brasil é bom, mas faz de outra maneira. A gente é mais criativo porque tem que se virar com o que tem, né?

Essas marcas de luxo obviamente têm lugar, mas a gente precisa pensar: quem compra roupa de luxo, viaja também e gosta de comprar lá fora. Tem que ser uma consumidora que compre no Brasil e compre lá fora, compre no Brasil e compre lá fora... Deve ter...

Você acompanha o trabalho dessa nova geração de estilistas, pós-anos 1990?
Super, se você me mostrar a foto de um desfile de qualquer pessoa, te digo quem é.

Pode ser da Casa de Criadores [evento de moda para revelar novos talentos do empresário André Hidalgo]?
Pode. Eu acompanho muito porque sou estilista e consumidor, eu gosto de roupa. Eu olho todos os desfiles de todas as semanas.

Quem é um nome para ficar de olho?
É muito difícil de responder. Os estilistas da geração HotSpot [evento comandado por Paulo Borges no começo da década também para revelar novos talentos] não conseguiram sobreviver, sabe por quê? Porque entraram numa engrenagem chamada desfile, que come todo dinheiro de qualquer pessoa. Não adianta. Vende carro, vende a mãe e faz desfile, mas não vende roupa. É super complicado. Eu até dou um conselho em classe [Alexandre tem cerca de oito encontros semestrais com alunos do Senac] que é assim: não queiram ser estilistas da própria marca, vão trabalhar para outras. Eu conheço estilista que ganha entre R$ 5 mil e R$ 25 mil! Você pode trabalhar para outra marca e se dar muito bem.


Entrevista Chic, parte 3: "não tenho hoje verba suficiente para fazer dois desfiles fora", diz Alexandre Herchcovitch...

Alexandre
O estilista Alexandre Herchcovitch no backstage do desfile de verão 2010 em setembro de 2009, em NY
Com loja própria em Tóquio, além do Rio de Janeiro e São Paulo, e integrante do line-up oficial da semana de moda de Nova York desde 2004, depois de um período desfilando em Paris, Alexandre Herchcovitch conta, na terceira parte da entrevista ao Chic, como andam os negócios no exterior.

Você pretende desfilar a coleção masculina fora do Brasil?
Não, mas adoraria. Todo mundo fala que eu deveria desfilar o masculino fora, mas é muita grana, não tenho hoje no marketing verba suficiente para fazer dois desfiles fora.

E como estão as vendas em Nova York?   
A gente tem showroom e é ok. Desde a crise de 2008, as vendas caíram de verdade, tanto no Japão quanto nos Estados Unidos. A gente está recuperando agora, bem sofridamente, os clientes.

O tsunami afetou de alguma maneira a sua loja em Tóquio?
A loja do Japão ficou fechada até 25 de março, mas já está voltando ao normal.

Vai abrir mais loja aqui ou lá fora?
Aqui eu tenho vontade de abrir mais lojas nesse formato [o da loja dos Jardins, de 400 m²], que as pessoas consigam ver tudo. Lá fora, está longe de abrir loja.

E já tem um cronograma para novas inaugurações?
Não.